A história relatada nesta noticia é realmente singular e merecedora de muito ser divulgada:
Encaram-no como dádiva para ajudar os outros e como um acto de solidariedade sem necessidade de retorno. Por influência de um pai, para atender a um pedido público, ou para ajudar um familiar de um amigo, cada um dos heróis que o DN dá hoje a conhecer tem um percurso próprio. Mas, feita a primeira dádiva, nunca mais pararam. Um deles foi homenageado pela ministra da Saúde.
Tinha imaginado ser discreto durante toda a vida. Recusa ser idolatrado por estender o braço, dando sangue. De uma simplicidade desconcertante, José Manuel Tomé Paula, 51 anos, guarda prisional de profissão, conseguiu a proeza de surpreender os colegas do Estabelecimento Prisional de Coimbra, onde actualmente trabalha, quando, em Novembro, foi distinguido pela actual ministra da Saúde, Ana Jorge, numa cerimónia oficial na sala do Conselho de Administração dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC).
“Não queria, nem quero, protagonismos, mas aceitei a homenagem com grande satisfação. Alguns colegas nem sabiam nada desta parte da minha vida”, diz.
A medalha de ouro que recebeu – o galardão máximo – ‘apanhou’ José nas 84 dádivas. Porém, a generosidade deste guarda prisional ainda não parou. Desde a homenagem, já voltou outras duas vezes ao Serviço de Imunohemoterapia dos Hospitais da Universidade de Coimbra, onde está inscrito nos arquivos desde 1984: “Já dei sangue 86 vezes, mas, o meu sonho é chegar às 100 dádivas, era sinal de que tinha saúde e que estava ainda cá para ajudar”, assume ao DN.
Recorde-se que José Paula já rebentou a escala dos galardões pois a distinção máxima exige 60 dádivas (20 dão direito a medalha de bronze e 40 a medalha de prata).
No recato da sua vida profissional e pessoal, este dador recordista assumiu, no dia da homenagem feita nos HUC, que nada alterou nos seus hábitos de vida perante a disponibilidade de dar sangue. O presidente do Conselho de Administração dos HUC, Fernando Regateiro, realçou o gesto de José Paula pelas suas “dádivas há mais de 20 anos”.
Desde 1984 dá sangue, de três em três meses. E medo das agulhas?, perguntaram os jornalistas naquele dia. “Não!”, retorquiu, sorrindo. “Digo sempre às pessoas para perderem esse medo. Eu encaro isto como uma brincadeira”.
Nasceu em Vila Franca das Naves (Trancoso, Guarda), mas foi em Miranda do Corvo (Coimbra) que se fixou, depois de ter sido guarda prisional em Lisboa e Sintra. Sensível ao drama dos acidentes rodoviários e da necessidade de dar sangue para os sinistrados, não hesitou em pôr em prática a sua vontade de ajudar, voluntariamente, sem nada em troca.
O município mirandense também lhe prestou homenagem, recentemente, pela sua abnegação em prol dos outros. Mas José Paula aceita com muito esforço o mediatismo em torno do seu gesto.
“Uma entrevista? Só se for para motivar mais pessoas a dar sangue, porque não quero que falem de mim, não ando a apregoar aos quatro ventos o que faço…”, sublinha, simpaticamente, ao DN.
E acrescenta: “Sou um simples dador, entro e saio do serviço [de Imunohemoterapia] nos HUC, cumprimento as pessoas e sigo com a minha vida normalmente”.
Está visto: Ainda há heróis que recusam a fama.