Yann Tiersen volta a Portugal.
Depois de actuar esta semana na Figueira da Foz ou em Vila Nova de Famalicão, Yann Tiersen apresentou-se ontem no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, num concerto esgotado. Mas embora acolhido por um público numeroso, este espectáculo do músico francês terá sido dos que mais dividiu opiniões.
Presença habitual em salas nacionais, Yann Tiersen é, há mais de uma década, um artista de culto por cá, com uma popularidade que tendeu a reforçar-se após a edição da banda-sonora de “O Fabuloso Destino de Amélie” (2001), de Jean Pierre Jeunet, que compôs e interpretou – a de “Adeus, Lenine!” (2003), filme de Wolfgang Becker, também ajudou a torná-lo num nome mais reconhecível.
Esta semana, o músico francês actou no Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz, dia 4, na Casa das Artes de Famalicão, dia 5, e ontem fechou o ciclo de três actuações no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
Mais uma vez o espectáculo voltou a ser muito concorrido e a adesão compreende-se, já que as passagens anteriores do músico foram quase sempre memoráveis e a garantia de mais um bom concerto era quase certa.
E se, ao fim de hora e meia, o balanço esteve longe de negativo, a julgar pelas reacções que se ouviram ficou ainda mais afastado de um acolhimento consensual.
De facto, quem ali esperava revisitar as canções das banda-sonoras que celebrizaram Tiersen poderá ter ficado desiludido, uma vez que as atmosferas que o músico e a banda percorreram não podiam ter sido mais antagónicas.
Em vez dos mais emblemáticos piano e acordeão, a noite ofereceu uma sucessão de guitarras distorcidas e rugosas, mais ligadas a certas escolas de algum rock e pós-rock alternativo (Sonic Youth ou Mogwai) do que à tradição parisiense ou à música clássica que domina muitos discos do músico.
Além das canções (maioritariamente instrumentais e as restantes cantadas em inglês ou francês) a própria postura acentuou essa proximidade, do ar circunspecto apenas interrompido para pontuais “obrigados” às calças de ganga, camisa aos quadrados e cabelo despenteado que completaram a vertente indie.
Tendo em conta estes ambientes, o seu novo álbum, “Dust Lane” (com edição prevista para o final do ano), promete sugerir cenários de desertos inóspitos e não tanto ruelas parisienses com aura entre o melancólico e o delicodoce.
Mesmo os temas de “O Fabuloso Destino de Amélie” que, ainda assim, surgiram no alinhamento, mostraram-se quase irreconhecíveis, casos de “La Valse d’Amélie”, num encore vertiginoso, ou “Sur Le Fil”, o único que Tiersen interpretou a solo e onde o piano (que se ouve no disco) deu lugar ao violino.
Ao longo de hora e meia, o músico e o quarteto que o acompanhou serviram um sólido concentrado de intensidade com alguns momentos de excepção, e embora a ousadia demonstrada seja louvável – seria tão fácil fazer mais do mesmo para agradar a mais públicos -, o concerto ficou aquém das memórias dos de anos anteriores (na Aula Magna ou também no CCB, por exemplo, mais eclécticos e contrastantes).
Por mais competente que a actuação tenha sido, mostrou apenas uma faceta de um artista para quem a música não parece ter fronteiras e que ontem ficou reduzida às linguagens do rock. Nunca abaixo de interessantes, sublinhe-se, mas longe de Yann Tiersen no seu melhor.
Vodpod videos no longer available.
Vodpod videos no longer available.
Fonte: Sapo Notícias